Reclusão devido à pandemia de coronavírus fez crescer a obesidade infantil
A Fase Verde do plano de combate ao coronavírus abriu a possibilidade de retomada de algumas atividades. No Nosso Clube, que vem seguindo todas as normas estabelecidas pelas autoridades, as modalidades estão retornando aos poucos, com rigoroso cuidado com a saúde dos associados e funcionários. Para a médica Milena Grotta, especialista em pneumologia e alergia pediátrica e doutora em Saúde da Criança e do Adolescente, essa é uma ótima notícia. Nesta entrevista, ela fala sobre a importância de crianças e jovens praticarem atividades físicas, além de terem outros cuidados com a saúde.
Uma criança ou um jovem que vai começar a fazer esporte regularmente deve tomar quais precauções?
É preciso fazer uma avaliação médica, para detectar se há alguma contraindicação. Se for uma atividade competitiva, que pode trazer riscos de arritmias cardíacas, é pedida a avaliação de um cardiologista.
Quais as modalidades mais indicadas para crianças e adolescentes?
Todos os esportes são indicados para crianças e adolescentes. Muitas vezes, os pais optam pela natação porque é uma modalidade que já tem comprovação científica de contribuir no tratamento de doenças pulmonares, como a asma. Mas toda atividade física aeróbica melhora a função cardiopulmonar. Se a criança não gosta de natação, pode fazer futebol, basquete, tênis ou o que ela preferir. É sempre bom incentivar um esporte coletivo para que a criança tenha socialização, brincadeiras em grupo, aprenda a ganhar e a perder e desenvolva o cooperativismo. Isso é muito importante.
Há alguma modalidade que deva ser evitada nessas faixas etárias?
A única atividade não indicada é a musculação, até que a criança termine o crescimento ósseo. Carregar peso leva à hipertrofia, que pode fechar a cartilagem óssea precocemente, o que altera o potencial de crescimento.
Em tempos em que a obesidade infantil preocupa as autoridades de saúde, qual a importância de motivar as crianças a praticar esportes?
Com a suspensão das atividades devido à pandemia, as crianças ficaram muito em casa. Isso nos trouxe um problema de obesidade infantil maior do que já tínhamos. Cada paciente meu que sobe na balança, já espero no mínimo dois quilos a mais. Assim, agora temos que estimular ainda mais para que elas façam atividades físicas e que tenham uma alimentação equilibrada. Doces, refrigerantes, suco de caixinha – que na verdade é corante com açúcar –, tudo isso deve ser controlado. É preciso oferecer frutas, verduras, legumes, sucos naturais e muita água. Mesmo com as precauções por conta do coronavírus, é preciso voltar às atividades físicas. Os transtornos psicológicos que este isolamento está causando nas crianças e nos adolescentes estão maiores do que o risco de pegar o coronavírus, já que estamos na Fase Verde.
E os jovens que resistem a realizar atividades físicas, o que precisam saber para mudar de ideia?
As crianças e adolescentes precisam de atividade física, até para o crescimento. Essa é uma das bases do tripé do crescimento, juntamente com uma alimentação equilibrada e dormir no mínimo de oito a 10 horas por noite. Tem que ser à noite mesmo, que é quando o hormônio de crescimento age. A atividade física também melhora a circulação e a função cardiopulmonar e diminui o risco de obesidade, que está relacionada com todas as doenças inflamatórias. Quem tem asma, por exemplo, precisa fazer atividade física para melhorar a condição dos pulmões. Também é importante para evitar o aumento de colesterol e triglicérides, que afeta muitas crianças hoje em dia, pela alimentação incorreta e falta de gasto energético.
Que prejuízos pode ter o jovem que está exigindo mais do organismo do que seu limite recomenda?
Isso gera desgaste ósseo, muscular, das articulações e até hormonal. Para o corpo, não são saudáveis atividades físicas de alta performance, que podem gerar um desgaste precoce.
Que alimentos são importantes para quem tem uma vida ativa?
Principalmente para crianças e adolescentes, não se deve recorrer a dietas da moda, mas sim buscar a avaliação de um médico ou de um nutricionista. O indicado é ter alimentação balanceada, que contenha proteína, carboidrato, as vitaminas presentes nos legumes e verduras e muita hidratação. Sempre melhor preferir os carboidratos integrais, que têm uma absorção mais lenta. Importante consumir as fibras disponíveis nas frutas e nos grãos e também a gordura boa, como aquela oferecida pelas castanhas. É preciso eliminar a gordura saturada, que está no recheio da bolacha, sorvete de massa, salgadinho de pacote, macarrão instantâneo e comidas industrializadas congeladas. Vamos tirar menos da caixinha e descascar mais.